27 de agosto de 2012

Como Água para Chocolate

O Amor não se pensa. Se sente ou não se sente.” (retirada do filme Como água para chocolate)



O Filme, "Como Água para Chocolate" (México-1992), dirigido por Alfonso Arau foi retirado do romance homônimo da escritora mexicana Laura Esquivel publicado em 1989 o qual rapidamente se tornou um dos dez best-seller mais vendidos no mundo.

A expressão, título do filme, vem do fato de no México preparar-se chocolate com agua fervente e não com leite. Assim, quando se diz que uma pessoa está "como água para chocolate" é porque ela está fervendo, ou de raiva ou de amor ou de ambos.

O filme começa com a narrativa da sobrinha-neta de Tita lendo um livro de receita que também é um diário da tia-avó contando todos os acontecimentos dessa família.


"Mamãe dizia que era porque eu era tão sensível à cebola quanto Tita,minha-tia avó.
Dizem que Tita era tão sensível que desde que estava no ventre de minha bisavó chorava e chorava quando esta picava cebola. Seu choro
era tão forte que Nacha, a cozinheira da casa, que era meio surda, o
escutava sem esforço. Um dia os soluços foram tão fortes que provocaram o adiantamento do parto. E sem que minha bisavó pudesse
dizer um pio, Tita despencou neste mundo prematuramente, sobre a
mesa da cozinha, entre os aromas de uma sopa de massinha que estava cozinhando, os do tomilho, do louro, do coentro, do leite fervido,do alho e, é claro, da cebola. Como bem podem imaginar, a conhecida palmada na bunda não foi necessária pois Tita nasceu chorando de antemão, talvez porque ela sabia que seu oráculo determinava que
nesta vida lhe estava negado o casamento. Contava Nacha que Tita foi literalmente empurrada para este mundo por uma torrente de lágrimas
transbordando sobre a mesa e o chão da cozinha.
De tarde, quando o susto já tinha passado e a água, graças ao efeito
dos raios de sol, tinha evaporado, Nacha limpou o resíduo das lágrimas
caídas sobre a lajota vermelha que cobria o chão.''    


A história de Tita e suas receitas são a base do filme e através delas se transcorre toda uma situação política-social pela qual o México passou durante a Revolução Mexicana.


Tita, cresce na cozinha do Ranco onde mora ajudando ama Nacha que a ensina as propriedades dos alimentos e a mágica dos temperos. Por ser a filha mais nova e ter perdido seu pai muito jovem, a moça cresce com uma grande tarefa segundo a cultura da época: por ser a filha mais nova, nunca poderia se casar porque deveria cuidar de sua mãe. No entanto Tita se apaixona por Pedro que para não ficar longe de Tita acaba se casando com Rosaura, sua irmã mais velha.

Porém o amor dois dois nunca se acabou e a convivência forçada, o desejo latente e a proibida relação amorosa dos dois fica insuportável de tal maneira que Tita usa suas receitas para extravasar todo seu amor, ódio e angustia o que acaba contagiando toda a família em uma grande mistura de reações inesperadas e conflituosas.
Toda a trama da família De La Garza é cercada por segredos, mistérios, bloqueios sexuais, dificuldades de comunicação, o que torna mais intenso a transmissão de sentidos em toda a narrativa.

- "Se soubesse naquela época o que era buraco negro seria fácil compreender que tinha um buraco negro no peito que fazia sentir um frio intenso". (Tita falando sobre o fato de não poder estar com Pedro).


O mais esplendoroso do filme é o final, que por rações óbvias não entrarei em detalhes, mais posso dizer que um verdadeiro filme de romance consegue aflorar em nós o sentimentos mais primitivos.
Como Água para Chocolate, deixa o telespectador em pleno ponto de ebulição, e nos faz refletir sobre como muitos mitos e crenças criadas através de gerações podem por em risco toda uma relação familiar, comprometer a comunicação social e claro trazer a infelicidade.













Elenco: Lumi Cavazos.... Tita
Marco Leonardi.... Pedro Muzquiz
Ada Carrasco.... Nacha
Regina Tornè.... Mamá Elena
Yareli Arizmendi....Rosaura
Claudette Maillé.... Gertrudis
Pilar Aranda.... Chencha
Farnesio de Bernal.... Cura
Joaquín Garrido.... Sargento Treviño
Rodolfo Arias.... Juan Alejándrez
Margarita Isabel.... Paquita Lobo
Sandra Arau.... Esperanza Muzquiz
Andrés García Jr..... Alex Brown
Regino Herrera.... Nicolás





20 de agosto de 2012

"SONHOS" - Akira Kurosawa











O Filme "YUME" - ou Sonhos (1990) do cineasta japonês  Akira Kurosawa (23/03/1910- 06/07/1998) é baseado em sonhos reais que o cineasta teve em diferentes momentos de sua vida. 



A cronologia do filme se divide em oito diferentes histórias que estão unidos pela magia do sonhar. Toda a linguagem do filme é mais focada em imagens do que em diálogos o que provoca no telespectador uma reação em cadeia de sentimentos como amor, indignação, ódio, conflito social e busca interior, tudo traduzido em gestos leves, sonoplastia intimista e explosão de cores.


O primeiro conto "Um raio Sol Através da Chuva" Há uma antiga lenda japonesa que diz que quando o sol está brilhando através da chuva, as raposas se casam. Neste primeiro sonho, um garoto rejeitando o conselho de sua mãe de não sair de casa acaba se perdendo na floresta onde se depara com um cortejo de Kitsunes, no entanto acaba sendo descoberto por uma das raposas e foge, ao chegar em casa a mãe lhe da uma bronca e diz que as raposas estão bravas e que uma delas foi até sua casa e lhe entregou um punhal, então, o garotinho segue em direção ao arco-irés onde se encontra a casa das raposas.

O segundo conto " O jardim das Pessegueiras" -  Durante o Festival de Bonecas (Hinamatsuri), que ocorre tradicionalmente na primavera, quando as flores das pessegueiras estão totalmente abertas são exibidas bonecas que simbolizam as pessegueiras e suas flores rosas. A família de um garoto, entretanto, corta seu jardim de pessegueiras, fazendo com que o garoto sinta um forte senso de perda durante o festival do ano. Depois de ter sido censurado por sua irmã mais velha, o garoto descobre uma menina saindo pela porta da frente. Ele a segue para o jardim, agora podado, onde as bonecas da coleção de sua irmã ganharam vida e estão paradas em frente a ele nos declives do antigo jardim. As bonecas repreendem o garoto por ter cortado as preciosas árvores, mas após perceberem o quanto ele amava as flores, elas concordam em dar a ele a oportunidade de um último olhar para as pessegueiras através de uma bela dança.

O próximo sonho "A tempestade" - um grupo de alpinistas estão escalando uma montanha em plena tempestade quando se deparam com uma mulher, que possivelmente é Yuki-Onna uma figura do folclore japonês de uma mulher que canta para seduzir os homens, fazendo-os se perder nas nevascas e morrer congelados.



O conto " O Túnel" - um oficial do exército japonês se depara com seu pelotão morto em combate após percorrer por muito tempo dentro de um túnel de pedestres. esse conto retrata um pesadelo e a busca pelo perdão e a dor do remorso.


O quinto conto "Corvos" - Durante um passeio pelo museu de artes um estudante é sugado para dentro das obras e tem um  encontro com Van Gogh, que aqui teve a participação especial do também cineasta Martin Scorcese. 


O conto " Monte Fuji em vermelho" - é outra sequência de pesadelo onde uma usina nuclear começa a derreter e o céu fica pintado de um vermelho horrível, causando pânico e medo.



O sétimo sonho " O Demônio que chora" - o último pesadelo do filme mostra um homem vagando por um terreno montanhoso onde encontra um demônio com chifres que explica que ali ocorreu um acidente nuclear que acabou com toda a natureza e criou frutos gigantes e homens com chifres que uivam de agonia e dor.


O oitavo e ultimo conto " O vilarejo dos moinhos" - um jovem viajante chega a um pacato vilarejo onde as pessoas abdicaram da modernidade para ter uma vida simples e feliz. Ao conversar com um ancião ele se depara com um funeral de uma anciã de 99 anos que ao invés de ver as pessoas de luto elas estão festejando a vida que a senhora teve, dando assim uma linda lição de vida e simplicidade.

E assim é composto esta grande obra cinematográfica de um dos maiores cineastas da história, Akira Kurosawa onde cada conto descrito é belíssimo e inspirador.

O grande objetivo do filme "Sonhos" está na grandeza de sentimentos.